domingo, 1 de novembro de 2015

Finados [02/11/2015]

São quatro anos sem atualizar este blog.
Impressionante como a vida parece nem ter passado direito e, no entanto, tanta coisa aconteceu...

Especificamente hoje, quero falar de minha mãe.

Minha mãe faleceu dia 06/05/04 (a sequência numérica decrescente mais triste da minha vida).
Ela voltava pra casa, por volta das 19h, depois de ter buscado meu irmão na escola, tê-lo deixado na rua da casa dos priminhos, brincando, e de ter ido na quitanda comprar frutas, Ela foi abordada na porta de casa e assassinada com dois tiros, num assalto seguido de morte.
Essa é a minha história de vida mais dura.

Antes dela morrer, quando essa hipótese ainda me parecia muito distante, quando na minha cabeça faltavam ainda décadas até que isso fosse ocorrer... Ela me fez muitos pedidos, deu muitas instruções, a mais forte delas foi: NUNCA DEIXE DE VISITAR MEU TÚMULO.

Acaso do destino, o túmulo de minha mãe fica embaixo de uma árvore, muito próximo ao muro do cemitério, consequentemente, muito próximo à rua, bem na frente de uma lombada. Toda semana, pra ir trabalhar, eu passo nessa lombada. Aquela sensação de se elevar dentro do carro ao passar sobre a lombada, passou a ser, pra mim, a sensação de se elevar ao céu e pedir a proteção dela. É a minha maneira de nunca deixá-la sozinha, e de nunca estar sozinha.


Amanhã é dia de finados, dia de visitar o túmulo, dia de obedecer uma ordem maternal.
Mas como filha, eu costumo falhar em algumas instruções... Minha mãe odiava flores. Eu amo flores. Levarei flores amarelas (a cor que ela mais gostava) para enfeitar, porque de enfeites ela gostava.

São 11 anos e 6 meses suportando esta ausência. Os 4 anos sem atualizar o blog parecem nada, agora.

2 comentários:

  1. "Será possível que as suas orações e suas lágrimas sejam inúteis? Será possível que o amor sagrado, amor dedicação suprema, não seja onipresente? Não! Seja qual for o coração apaixonado, pecador e revoltado que se esconde num túmulo, as flores que crescem sobre ele nos fitam tranquilas, com os olhos inocentes. Elas não falam apenas da calma eterna, da grande, da infinita calma da natureza 'indiferente': falam também da paz e da vida eternas" (Pais e Filhos, de Ivan Turgeniev)

    Depois de muito tempo, de muitas tentativas frustradas (dos dias, meses e anos em que este blog esteve fora do ar), eis que consigo reencontrá-la.
    Bateu uma nostalgia tão grande! Tanto que enquanto escrevo, ouço "Final Touch/Hidden Agenda".

    Mande notícias, Gabriella.

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